Ele precisa começar: Proibido chimarrão

agenda

2012
Galpão Cine-Horto
17/05/2012 - Belo Horizonte, MG

Galpão Gamboa
15/03/2012 - Rio de Janeiro, RJ

2011
FIAC - Festival Internacional de Artes Cênicas
27/10/2011 - Salvador, BA

Festival Cena Contemporânea
02/09/2011 - Brasília, DF

Ocupação Foguetes Maravilha
Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto - Projeto ENTRE
Maio / 2011 - Rio de Janeiro, RJ

2010
Circuito Estadual das Artes
Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro
29/10/10 - Teresópolis, RJ
01/10/10 - Barra Mansa, RJ
20/09/10 - Itaguaí, RJ

Palco Giratório SESC 2010
06/11/2010 - Rio de Janeiro, RJ
11 e 13/10/2010 - Salvador, BA
11/9/2010 - Porto Velho, RO
05/9/2010 - Joinville, SC
03/9/2010 - Jaraguá , SC
01/9/2010 - Florianópolis, SC
26 e 27/8/2010 - St. André, SP
23/8/2010 - Londrina, PR
20/8/2010 - Curitiba, PR
27 e 28/7/2010 - Campo Grd., MS
25/7/2010 - Dourados, MS
22 e 23/7/2010 - Brasília, DF
19/7/2010 - Manaus, AM
17/7/2010 - Campina Grande, PB
14/7/2010 - João Pessoa, PB
10 e 11/7/2010 - Sobral, CE
07 e 08/7/2010 - Juazeiro, CE
03 e 04/7/2010 - Iguatu, CE
16/5/2010 - Cuiabá, MT
02/5/2010 - Porto Alegre, RS
25 e 26/4/2010 - Fortaleza, CE
24/4/2010 – Sobral, CE
10/4/2010 - Chapecó, SC
08/4/2010 - Lages, SC
06/4/2010 - Rio do Sul, SC

2009
Mostra SESC Cariri de Cultura
17/11/2009 - Juazeiro, CE
18/11/2009 - Crato, CE
22/11/2009 - Fortaleza, CE

Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente
22/8/2009 - Presidente Prudente, SP

Mostra Teatro na Contramão ESEM/SESC
20/8/2009 - Rio de Janeiro, RJ

Palco Giratório SESC 2010
10/5/2009 - Bento Gonçalves, RS
09/5/2009 - Farroupilha, RS
08/5/2009 - Caxias do Sul, RS
07/5/2009 - Gravataí, RS
06/5/2009 - Montenegro, RS
05/5/2009 - Porto Alegre, RS

SESC Consolação
São Paulo, SP
quintas e sextas, de 5 a 27 de março, 2009

2008
Operação Orquestra Improviso
Teatro Glaucio Gil - Rio de Janeiro, RJ
quartas e quintas, de 10 a 18 de dezembro, 2008

Teatro do Jóckey
Rio de Janeiro, RJ
de sexta à domingo, de 19 de setembro a 26 de outubro, 2008

Espaço SESC - Copacabana
Rio de Janeiro, RJ
de sexta à domingo, de 5 a 14 de setembro, 2008

ficha técnica

texto e atuação: Felipe Rocha
direção: Alex Cassal e Felipe Rocha
assistência de direção: Stella Rabello
orientação corporal: Dani Lima
cenário: Aurora dos Campos
iluminação: Tomas Ribas
trilha sonora: Felipe Rocha
programação visual: Radiográfico - Olívia Ferreira e Pedro Garavaglia
interlocutores durante a criação: Denise Stutz, Eleonora Fabião, Gustavo Ciríaco, Isabel Teixeira, Rodrigo Nogueira e Thiare Maia
realização: SESC Rio

EQUIPE RJ
assistência de iluminação: Nelson Leão
fotos: Dalton Valerio e Mauro Kury
produção: Bia Lopes
divulgação: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

EQUIPE SP
produção: Henrique Mariano
assistente produção: Odara Carvalho
divulgação: Frederico Paula
fotos: Roberto Setton

EQUIPE PALCO GIRATÓRIO
intépretes (em revezamento): Dani Barros e Felipe Rocha
oficinas: Alex Cassal e Felipe Rocha
fotos: Bárbara Copque

Alex Cassal

Nascido em Porto Alegre em 1967, trabalhou nos anos 80 e 90 com os grupos teatrais gaúchos Oi Nóis Aqui Traveiz e Alcatéia. No Rio de Janeiro desde 1996, formou-se em História e começou a colaborar com artistas como Dani Lima, Gustavo Ciríaco, Denise Stutz, Felipe Rocha, Löis Lancaster e Alice Ripoll.

Em 2002, foi um dos dez artistas brasileiros selecionados para o projeto Dialogue Sessions RJ Springdance, com Thomas Lehmen, Jan Ritsema e Helena Katz.

Em 2005, foi um dos realizadores do evento V::E::R - 1º Encontro de Live Art do Rio de Janeiro, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Foi contemplado pelo Programa Rumos Itaú Cultural Dança 2006/2007 com dois projetos: a coreografia “Gêmeos” e o videodança “Jornada ao umbigo do mundo”, já exibido em festivais de cinema ou dança em países como Uruguai, Argentina, Chile, México, Alemanha, Grécia, Espanha, Itália e Japão.

Em 2008, foi selecionado para o Programa de Residências Artísticas para Criadores de Iberoamérica no México, que resultou na coreografia para espaços urbanos “[ojos]”. Em 2009, participou do Projeto Estúdios, em Lisboa, criando três espetáculos com um grupo de artistas brasileiros e portugueses.

Vem atuando no território de cruzamento entre dança e teatro, performance e artes visuais. Criou as performances “(segredos)”, “Cogito” e “Espelho nº2”, apresentando-se em espaços culturais, hospitais desativados, apartamentos e eventos como o Panorama Rioarte de Dança.

Em 2010 colabora com o diretor Enrique Diaz no novo espetáculo do Coletivo Improviso, "Otro", e faz o percurso do Palco Giratório do SESC com "Ele precisa começar".

página pessoal

Felipe Rocha

Nascido em Paris em 1972, faz teatro desde 1986 e formou-se em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio). Trabalhou como ator com a Intrépida Trupe e com os diretores Amir Haddad, Aderbal Freire-Filho, Antonio Abujamra, Christiane Jatahy, Domingos Oliveira, João Falcão e Moacir Chaves, entre outros. Em 2004 começou a trabalhar com o diretor Enrique Diaz, com quem montou as peças “Gaivota - tema para um conto curto”, “Ensaio.Hamlet”, “Notícias Cariocas” e “Não Olhe Agora”, apresentando-se em Festivais como o Festival d´Automne, em Paris, Festival Tchekov, em Moscou, Under the Radar (Nova York), Festival internacional de Buenos Aires, El Grec (Barcelona), Transameriques (Montreal), Alkantara (Lisboa), Festival de Shizuoka (Japão), Kunsten Festival (Bruxelas), Festival Iberoamericano de Bogotá, Festwochen (Viena), no teatro HAU, em Berlim, e nos principais festivais brasileiros de teatro. É membro do Coletivo Improviso, dirigido por Enrique Diaz e Mariana Lima.

Como bailarino em dança contemporânea trabalhou com Cristina Moura, Marcia Rubin, Dani Lima, Paulo Mantuano e Henrique Schuller. É trompetista e diretor artístico da banda Brasov, com a qual lançou o CD “Uma noite em Tuktoyaktuk”, lançado pela Dubas/Universal.

Compõe para teatro, cinema e dança desde 1989. Indicado três vezes ao Prêmio Shell de Teatro de melhor trilha sonora (2005, 2004 e 2003).

Em 2009, participou do Projeto Estúdios, em Lisboa, ao lado do artista português Tiago Rodrigues, e realizou durante três meses uma residência artística no Centre Intérnacional des Recollets, em Paris.

Em 2010 estréia o novo espetáculo do Coletivo Improviso, dirigido por Enrique Diaz e faz o percurso do Palco Giratório do SESC com "Ele precisa começar".

página pessoal

comentários

Após assistir a essa exposição de busca de sentido para a cena, fica a certeza de que Felipe Rocha precisa, deve e vai continuar.
Macksen Luiz - crítico de teatro (Jornal do Brasil)

Esse me parece ser o veio principal do trabalho: a afirmação de que o espaço teatral (e, por extensão, o espaço artístico de modo geral) é um lugar de desvelamento não só da trama ficcional, mas, sobretudo, de seu processo de estruturação.
Fátima Saadi - teórica de teatro

Não quer explicar nada e diz tudo dessa nossa arrogância de querer explicar o inexplicável, de querer dar sentido ao turbilhão, de não encarar de frente o olho da morte.
Chacal - poeta

Felipe foi além, se é que há além... Ele nos declara que não dá mais para ficar falando de dramaturgias obsoletas com velhas fórmulas ou novas fórmulas de sucesso fácil e volátil. E muito menos ficar nas abobrinhas que já passaram do ponto desde os anos 80's. Nem tudo é besteirol e Felipe tem urgência de discutir novos personagens para nossa paralisada perplexidade.
Caíque Botkay - compositor

Ele Precisa Começar começa com a falsa idéia de um experimento cênico de câmara e agiganta seus espaços (físicos e semânticos) com uma sacolejante explosividade. É como um elefante numa loja de porcelanas – exceto que o elefante canta e dança balé entre as louças, sem jamais derrubá-las.
Rafael Gomes - cineasta

O autor/ator Felipe Rocha nos leva, em alta velocidade a uma espécie de túnel que tem no final um caleidoscópio como luz.
Daniela Pereira de Carvalho - dramaturga (Folha de São Paulo)

Uma roda viva, sem arame de segurança. Um sacode no tédio da dramaturgia contemporânea.
Marcia Zanelatto - dramaturga

Felipe Rocha está sempre disposto a questionar conceitos de espetáculo, criação e interpretação em seus trabalhos. Nessa peça, imperdível para quem gosta de teatro, ele se utiliza de recursos simples para proporcionar ao público uma mágica e fascinante viagem ao mundo da criação
Emílio de Mello - ator (Revista Aplauso)

Dramaturgia instigante, original, um jogo de narração cheio de surpresas e vazios. Felipe conduz o espetáculo como se fosse um amigo íntimo da platéia, carismático, cínico e (aparentemente) sem saber onde nos levar.
Pedro Brício - ator e diretor

Autor, ator e personagem se misturam a todo momento, estabelecendo um jogo saboroso entre ficção e realidade, que encanta pela maneira criativa e espontânea com que se desenrola.
Gabriela Mellão - crítica teatral

Um espetáculo sólido, bem interpretado, divertido e que nos faz refletir sobre o lugar da dramaturgia (e do próprio público) no teatro que se faz hoje.
João Branco - diretor do Festival Mindelact, Cabo Verde

Hoje, ficou claramente borrada a fronteira entre a arte e a vida, com a primeira estetizando a segunda e a segunda vivificando a primeira. Se a proposta dos Foguetes Maravilha é impulsionar a sensibilidade/humanidade/ acolhimento da alteridade do seu público, hoje essa proposta foi materialmente realizada.
Patrick Pessoa - filósofo

Jornal do Brasil: Felipe Rocha precisa continuar

Nada mais sincero e honesto do que o título desta performance-espetáculo-show de Felipe Rocha, em cena no Teatro do Jóckey. Rocha é o ator de suas dúvidas, como o personagem que se confunde com a própria maneira de contar e inventar sua história, e na qual a forma, o teatro, a platéia, e até o cafezinho servido antes do espetáculo fazem parte do show.

O que fazer, como escrever, como encenar, o que mudar, aonde chegar? Todas essas perguntas são a razão deste Ele precisa começar, em que o impulso de se medir em cena é levado ao paroxismo de criticar seus métodos e de experimentar se questionar. Ao brincar com a narrativa e construir possibilidades de exploração da dúvida, Felipe nega os meios de fazê-lo e antecipa, com alguma impiedade, as ponderações sobre suas idéias e a análise de suas intenções. O que diz e encena demonstra a consciência dos limites e das "precariedades", mas o que ressalta é a vontade de se avaliar, de verificar a extensão das possibilidades, de romper com a imobilidade e tentar começar. Após assistir a essa ingênua, às vezes provocante, eventualmente sincera, quase sempre exposição de busca de sentido para a cena, fica a certeza de que Felipe Rocha precisa continuar.

Por MACKSEN LUIZ em 16/10/08

Tribuna da Imprensa: Escrita contaminada pela cena

Felipe Rocha assina o texto, divide a direção (com Alex Cassal) e atua em "Ele precisa começar", atualmente em cartaz no Mezanino do Espaço Sesc. Mas este acúmulo de funções não é gratuito. Afinal, Felipe brinca, no espetáculo, com as fronteiras entre os lugares do dramaturgo, do ator e do espectador. Transita entre a primeira e a terceira pessoas através da "história" de um autor que começa a escrever uma peça sem saber por quais percursos artísticos seu texto o levará.

O limite entre a ficção e a não-ficção, destacado em "Ele precisa começar", é uma constante na carreira de Felipe, que vem travando parcerias com diretores como Enrique Diaz, tanto em espetáculos da Cia. dos Atores quanto do Coletivo Improviso, Aderbal Freire-Filho, em montagens do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo, como a bem-sucedida "Turandot", e Christiane Jatahy, na recente substituição de Pedro Brício em "A falta que nos move... ou todas as histórias são ficção".

"O jogo metalingüístico sempre me interessou. Em 'Ensaio.Hamlet', Enrique Diaz 'quebrou' Shakespeare para se aproximar dele. Com todo louvor que devemos a autores como Shakespeare e Tchekhov, eles estão mortos e a carne em cena é a nossa. Acho que a realização de operações sobre os textos originais pode nos tornar mais próximos dos dramaturgos do que uma montagem comme il faut", destaca. "Diaz é um diretor que aposta nos processos colaborativos, estimulando os atores a criar em cena", complementa Felipe, que, nesse trabalho, conta com orientação corporal de Dani Lima.

Não por acaso, "Ele precisa começar" é definido pelo próprio Felipe como um texto escrito por um ator. "Não escrevi durante o processo de trabalho, mas fiz modificações no decorrer dos ensaios. Percebi que havia um rebuscamento conceitual, que, apesar de prazeroso na esfera literária, ficava deslocado no palco", explica Felipe Rocha, que, como se vê, investiu numa escrita contaminada pela cena.

Por DANIEL SCHENKER em 10/09/08

Questão de Crítica: O real e sua esfera de criação

O teatro contemporâneo se configura cada vez mais por espetáculos que são difíceis de nomear, ou mesmo ajuizar. Ainda mais, porque pensar o contemporâneo como um desdobramento meramente cronológico do moderno implica em não reconhecer a questão de suas especificidades como, por exemplo, o fato de que rupturas formais não são mais tão evidentes como eram nas vanguardas, onde norma e desvio poderiam ser critérios mais pertinentes. Do modo como eu percebo, o espetáculo Ele precisa começar, com dramaturgia e atuação de Felipe Rocha, conversa com este pensamento na medida em que sua particularidade, ou seja, o lugar mais original no qual somos afetados é tão preciso quanto fugidio.

Tentarei começar pela precisão, mas é possível que minha escrita seja como a minha percepção que dança sempre entre extremos. O espetáculo coloca o espectador na própria iminência do seu título. Ficamos lá em cadeiras sobre praticáveis que sinalizam nossa condição de espectadores de uma cena que nos convida ao íntimo, porém, uma intimidade distante por meio da inspiração retrô. A primeira fala de Felipe, sobre sua demora em começar a função - o que poderia ser algo da esfera do cotidiano, quase anódina - é dita de modo bastante teatral nos remetendo novamente à condição do artificial, ou seja, a da criação.

A dramaturgia dá a ver os processos de escrita de um autor que está em um quarto de hotel barato. Felipe materializa a escritura, ao mesmo tempo em que constrói para o espectador o duplo do imaginário da cena propriamente dita. O espetáculo não é algo que simplesmente pode ser assistido, como também um livro não é apenas lido, pois escapa a uma objetividade porque se configura para cada um como uma experiência que não coincide com a experiência do outro. Deste modo, abre-se a questão da autoria da obra de arte, compreendida pelo gesto de escolha poética do artista como instaurador de sentidos que se desdobram num contexto maior de possibilidades que incluem o público, a história e o próprio mercado. Abre-se uma esfera de ressonância que inclui temporalidades distintas em simultaneidade. Nessa esfera de abertura a encenação propõe a percepção de um “entre” que o espectador começa a nomear, ou seja, se pode falar de personagem (escritor e Fátima), de ator (Felipe), de escrita (dramaturgia e romance), de ficção (teatro e literatura) e de realidade (espaço cênico). O “entre” se configura na medida em que o que nomeamos nos foi apresentado como algo que ao mesmo tempo está presente e oculto.

Essa tensão entre revelação e ocultamento está engendrada tanto na dramaturgia quanto na cena. Nessa última, o ator constrói certas partituras corporais, por assim dizer, que promovem uma mudança de nível de sentido, ou seja, a direção e a extensão do que podia ser percebido dá um salto para um lugar não programado e nos surpreende. Acredito que esse elemento seja uma particularidade do trabalho que Felipe Rocha desenvolve e que pude perceber ao longo de sua transposição da dança para o teatro. Desde o espetáculo Ensaio.Hamlet com a Companhia dos Atores, Felipe dá a ver um esmaecimento sutil da dança que parece encontrar em Ele precisa começar uma espécie de essencialização que não deixa sobras. Sua gestualidade é precisa e nos remete ao etéreo, ao impalpável que, ao mesmo tempo, é elemento do mundo.

por DINAH CESARE em 06/12/2008
www.questaodecritica.com.br

Jornal do Estado / MT: Nós precisamos experimentar

O espetáculo de domingo do Palco Giratório foi no mínimo, surpreendente. Quem estava lá pôde conferir a ousadia dramatúrgica de Felipe Rocha (Cia. dos Atores), interpretada pela atriz Dani Barros, que virou do avesso a confecção do texto teatral e exibiu a costura. Nos 70 minutos que se seguiram, assistimos divertidos e estupefatos ao desdobramento incessante de possibilidades de uma construção dramatúrgica, que partindo do nada seguia rumo ao ‘qualquer coisa’, sem nenhuma preocupação com coerência ou linha dramática. Aristóteles já era; o que existe é o agora. Com fortes influências da discussão do teatro pós dramático, o autor experimenta construir um espetáculo com a ajuda de um voluntário de cena que interpretará o personagem principal da peça. Aqui precisamos lembrar que um texto dramatúrgico só se completa quando é encenado, e o personagem só existe de fato quando o ator lhe dá a vida. Neste caso Felipe fuça justamente neste buraco quando impõe ao seu personagem uma vida nova a cada representação. Apesar da discussão séria teatral, o espetáculo conserva a leveza característica do teatro carioca, que parece não conseguir levar nada a sério realmente. Para começar, atriz e espectadores dividiram o mesmo espaço de representação: o palco. Todos estamos atuando, portanto. Dani Barros nos oferece cafezinho, nos recebe cordialmente e nos deixa à vontade, para em seguida revelar que precisa começar. Inicia a construção de um texto dramatúrgico sem pé nem história e declara que precisa de um voluntário para dar continuidade ao texto. Um voluntário se candidatou e eu o conheço; meu amigo Frank Busatto, que imediatamente deixou de sê-lo para se tornar Carlos, o protagonista da peça. Enquanto Dani Barros ia narrando uma enxurrada de possibilidades para a história, acreditando nelas como num delírio esquizofrênico, nós íamos acompanhando Frank/Carlos executar os ditames da narração, assim como o ator faz com o texto dramatúrgico. O tapete é puxado logo em seguida quando a narradora questiona o papel do ator, que só repete, como um fantoche; o que estamos fazendo no teatro? Só repetindo o que o dramaturgo impõe? Qual é o papel do ator? Dani Barros continua conduzindo, delicadamente, os passos de Frank/Carlos, enquanto nos divertimos com a narrativa que vai para todos os lugares e consegue não chegar a nenhum. Durante este incrível jogo entre realidade e ficção que acaba se instaurando, a atriz controla luz e som durante a cena, bem como as orientações para contra-regragem; ela combinou com uns espectadores que num dado momento da história eles jogariam um lençol que cobriria os protagonistas. Foi feito. A maioria das coisas que a narração conduzia foi realizada, não sei se por diversão de um jogo interessante ou porque estamos acostumados a executar o que nos pedem. Onde está a realidade e a ficção? Dani Barros não interpretava uma atriz, nem um personagem, mas sim, dava vida a um dramaturgo em pleno processo criativo. O ponto alto foi a briga com o corretor automático do computador; hilário! Este espetáculo foi originalmente concebido para a atuação de Felipe Rocha, o próprio dramaturgo, que para percorrer a turnê do Palco Giratório precisou ser substituído pela atriz Dani Barros em algumas cidades, como foi o caso de Cuiabá. Tivemos oportunidade de conhecer a atriz no Palco Giratório do ano passado, com o espetáculo “Inventários”, dos Doutores da Alegria. A direção é de Felipe Rocha com Alex Cassal, que já foi um atuador do Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre. Uma equipe e tanto.

Por JULIANA CAPILÉ em 18/05/10
Cia. Pessoal de Teatro

Fátima Saadi: Uma obra que relata a construção de outra

Ele precisa começar é uma obra que relata a construção de outra por meio de um ator que problematiza sua relação com o personagem, de uma trama que se constitui por espasmos e de espectadores solicitados a se transformar em Fátima.

Um ator, Felipe Rocha, nos conta que um jovem, em um hotel modesto, munido de um laptop, numa segunda-feira de folga, dispõe-se a começar a escrever uma narrativa ficcional. O relato das agruras da escrita desse texto se mistura às agruras que o autor enfrenta ao ver-se envolvido pelas situações e personagens que cria.

Quando o espetáculo começa, são doze e trinta e sete no quarto de hotel; são dezenove e trinta no teatro. Navega-se, de início, entre duas margens, o tempo e o lugar da cena e o tempo e o lugar da narrativa ficcional. Muito rapidamente, no entanto, essas duas realidades vão se aproximando uma da outra: a roupa com que o candidato a escritor está vestido é depositada pelo ator aos pés dos espectadores da primeira fila. Ato contínuo, ele narra que batem insistentemente à porta do quarto de hotel, mas o escritor, que não pretendia abrir por nada deste mundo, vê-se forçado a isso, dada a obstinação das batidas. É Fátima, a camareira. A descrição da figura e de seu desespero antecede nova condensação entre os planos em jogo.

A nova personagem não apenas nos é apresentada pelas palavras do ator (que, nesse momento, representa o autor da história), como é materializada, a convite do narrador, numa espectadora, que a isso se presta voluntariamente, com a garantia de que nada de mau lhe acontecerá se ela concordar com a proposta. A partir daí, não só o ator pertence a dois mundos – ao da cena e ao mundo literário onde vive Fátima (na verdade, uma falsa camareira que, como se verá depois, está sendo perseguida por uma gangue romena), mas também a platéia, na pessoa da voluntária, penetra nesse universo de filmes B e de pulp fiction e nele atua pelas palavras e ações do ator/autor.

Ele logo conclui que é impossível esconder Fátima no espaço cênico: nem mesmo atrás das cortinas do fundo ela estaria a salvo. E então conclui que “ele [o autor] acha que nenhum lugar nesta sala é bom o suficiente para esconder de verdade alguém”.

Esse me parece ser o veio principal do trabalho: a afirmação de que o espaço teatral (e, por extensão, o espaço artístico de modo geral) é um lugar de desvelamento não só da trama ficcional, mas, sobretudo, de seu processo de estruturação.

Além disso, fica clara no espetáculo a certeza de que o universo ficcional não se basta e não se fecha sobre si mesmo. Pontos de contato explícitos entre situações e objetos da história que está sendo narrada e o espaço e a situação em que estão reunidos ator e espectadores reiteram esse trânsito. A porta do quarto do hotel é explicitamente mostrada ao público quando o ator abre a porta de saída do espaço cênico para que a camareira Fátima entre. Por essa mesma porta sairá um espectador fictício que, irritado com a forma aleatória pela qual a trama está avançando, acaba envolvido num tiroteio, como punição por ter desertado o universo ficcional, abandonando seu papel de espectador, para, na esperança de retomar o curso natural da vida cotidiana, paradoxalmente, entrar na história de Fátima e da gangue romena.

A teia que vai sendo tecida entre a performance do ator e a história da falsa camareira, na qual o autor se envolve, arrastando consigo a Fátima-espectadora (e, com isso, tornando mais palpável e ativa a platéia, em geral, ignorada nos monólogos, que preferem fazer de contas que os espectadores não estão ali), inclui também os instrumentos de que o ator/autor se serve para criar seu trabalho. É hilariante a cena da briga com o corretor automático, que, com seu implacável sublinhado vermelho, acaba por extrapolar sua função e interferir no conteúdo do que está sendo escrito, ao “proibir” certas palavras, sugerindo que sejam substituídas por outras que não fazem o menor sentido no contexto.

O prazer de assistir a Ele precisa começar se amplia por esse jogo entre o que acontece diante de nós em cena, narrado ou atuado, e o pano de fundo da história do teatro, ao longo da qual diversas rupturas na compreensão do estatuto e da função da arte nos permitem, na contemporaneidade, encarar a obra teatral como um acontecimento absolutamente presente, uma concretude cênica..

O ator narra e representa o autor, mas acaba por se tornar personagem e, portanto, criatura, daquele que escreve: essa construção em abismo põe em xeque a relação entre o ator e seu papel, ao demonstrar o movimento pelo qual Felipe Rocha aciona e desarma as diversas figuras da história que está sendo contada. A trama rocambolesca, com amplo recurso ao humor, impede que o espectador se envolva com o espetáculo de forma acrítica, isto é, vendo nele apenas a reiteração de sua concepção de mundo e, importante sublinhar, de sua concepção do que seja um bom espetáculo teatral.

Para isso contribuem as inúmeras referências ao ato da criação e a suas dificuldades, desde os tropeços com a linguagem, que o corretor quer controlar e normatizar, até um projeto dolorosíssimo (e, por isso, interrompido pouco depois de começado) que o autor elabora de consultar todos os proctologistas de Copacabana para gravar suas impressões, que, organizadas, resultariam num trabalho artístico.

Também o uso dos objetos nos remete à mágica que caracteriza o teatro: a que se cria não porque pega o público de surpresa, envolvendo-o num truque, mas a que brota de um rearranjo dos elementos dos quais a cena dispõe. É o que ocorre quando o autor pensa que seria ótimo se um pano azul que caísse do teto e, incontinenti, Fátima e o autor-personagem são envolvidos por um lençol, por artes de um espectador, que havia sido discretamente instruído, no começo do espetáculo, a desempenhar essa tarefa, quando o momento se apresentasse.

Como última pirueta a unir os diversos níveis da história e os diversos momentos do espetáculo, a espectadora Fátima, também seguindo instruções que lhe são transmitidas de forma quase imperceptível, executa efetivamente uma das hipóteses levantadas no momento em que a personagem da camareira surge na imaginação do autor: “Ela vai se levantar, vai apagar o abajur, fechar o laptop e sair por aquela porta”. Essa idéia, que surge no terço inicial da peça, logo é abandonada em benefício de outros desenvolvimentos da trama: “Não, ela vai se rebelar contra ele, contra a narração no futuro. Vai trazer a ação para aquela sala. Vai levantar, caminhar até o centro da sala....”. Quando ela desliga o laptop, percebemos que o fim, na verdade, já estava dado quase que desde o início, assim como o lençol azul já estava, desde cedo, aos pés dos espectadores.

O jogo entre a materialidade da cena e a realidade da platéia encontra equivalente no curto-circuito entre o tempo da trama e o tempo do espetáculo, que convergem para o gran finale, alcançado depois de muitas aventuras e bastante hesitação, quando a espectadora Fátima encerra a camareira Fátima no laptop e sai, concluindo o espetáculo. E esta outra Fátima se põe a escrever sobre ele.

Por FÁTIMA SAADI
Tradutora e dramaturgista do Teatro do Pequeno Gesto para o qual edita a revista Folhetim e a coleção Folhetim/Ensaios.

Psicoação: Na semana passada fui Fátima

Na semana passada fui Fátima.

Essa mudança radical se deu através das mãos, do olhar, do corpo, da presença do ator Felipe Rocha. Amo teatro, paixão esta que nasceu muito antes da psicologia, mas o amor também nos torna exigentes e por isso nos frustra com constância, porém quando me encontro diante de um espetáculo como esse, sinto todas as células de meu corpo em festa, em conexão comigo, com a cena e com o universo. Ele precisa começar é sublime! Simples, certeiro e real.

É uma peça que transpira. Quando me candidatei à Fátima não sabia o que me aguardava, mas como gosto da brincadeira, me abri para essa experiência, é bem verdade que não fui às cegas, pois já havia visto Felipe com a Cia. dos Atores, do diretor Enrique Diaz, em Ensaio.Hamlet e na Gaivota, e cada uma delas fui assistir duas vezes, pois me encantei com os espetáculos.

Mas Ele precisa começar superou minhas expectativas, Felipe faz tudo, enche o palco, ocupa todos os espaços, a luz, o som , a forma, se entrega e permite que o público submerja, vivencie aquele instante, permanece no aqui-agora, essência de nossa existência tão desconectada de nós.

Agradeço a Felipe a essa oportunidade e indico, recomendo, faço propaganda, grito aos quatro ventos: ELE PRECISA COMEÇAR. E NÓS TAMBÉM!

por DANIELA PINOTTI MALUF em 19/3/09
www.psicoacao.com

segunda-feira, 9 de março de 2009

Proibido chimarrão

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Alex Cassal

Felipe Rocha