terça-feira, 16 de setembro de 2008

Chacal: Um Felipe infinito

Fui ver a peça do Felipe Rocha “Ele precisa começar”. É um show de interpretação, de texto, de nuances dramáticas. Que não levam absolutamente a lugar nenhum.

Um dia pensavam que a arte podia levar a algum lugar. Cada movimento que aparecia prometia ser o certo. Que ele seria o caldo knor da quinta essência da arte. Paralelamente a política apresentava suas armas e numa escalada medonha, diagnosticava que o comunismo triunfal ou o livre mercado poderiam enfim, trazer a tão desejada felicidade.

Concomitantemente ciência dos baixos instintos explanava que resolvido problemas de ordem orgônica, das repressões no olho do cu do mundo, o homem e a mulher felisseriam. Isso nos dava um sentido.

A peça de Felipe vai ali e chega junto. Uma coisa que nuncomeça... uma peça que nuncacaba. Não quer explicar nada e diz tudo dessa nossa arrogância de querer explicar o inexplicável, de querer dar sentido ao turbilhão, de não encarar de frente o olho da morte. Felipe desconstrói um a um os as partes pudicas do teatro (palco, público, personagens), da narrativa (quem fala?), do espaço cênico (entra o fora, sai o dentro). E dessa angustiante, hilária e cruel dissecação, o que resta ? Um espetáculo espetacular. Aos que buscam uma historinha digestiva para abrir o apetite de um jantar regado ao prazer do blá blá blá, passem longe. Aos que buscam uma chave de braço no teatro com os atores sapateando sobre suas vísceras, esse poderão gostar. Mas Felipe avisa: nada contra apenas eu tentando começar.

Aos que vão em busca de um sentido, continuarão à espera. Sentados.

Felipe tem estrada gloriosa. De músico extraordinário, autor de belíssimas trilhas para dança, teatro, poemas, à integrante do seminal Brasov, uma gang de mafiosos romenos que assalta nossos palcos vezenquando, a saltimbanco na Intrépida Trupe e na Companhia de Dani Lima, a ator na Companhia dos Atores, dirigida por Enrique Diaz. Felipe não é de hoje, já ta na pista há muito tempo. Agora vai, fazer de suas confuscas, de seu requeijão, uma arte que não se quer redentora, nem se quer repetitiva. Apenas uma forma corajosa e histriônica de driblar o sentido. A vida tem muitas mãos. E o dedo que aponta é o dedo que erra.

Por CHACAL em 15/9/2008
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