sábado, 28 de março de 2009

O Estado de São Paulo: Monólogo une ficção e realidade

Durante uma excursão internacional com a Cia. dos Atores, do diretor Enrique Diaz, o ator Felipe Rocha decidiu utilizar bem seu tempo livre – em vez de passeios desinteressantes, preferiu realizar um desejo antigo e escrever uma peça. O resultado foi um monólogo, Ele Precisa Começar, que estreia hoje no Espaço Beta do Sesc Consolação, depois de uma temporada de sucesso no Rio.

O enredo é engenhoso: um homem de 35 anos, fechado em um quarto de hotel, durante uma segunda-feira de folga, decide começar uma narrativa ficcional. Como não tem nada planejado, escolhe a si mesmo e ao seu quarto de hotel como ponto de partida para sua história. “Ou seja é um ator que se dirige à plateia para informar que um dramaturgo logo vai escrever uma história a serencenada por ele”, conta Rocha. “Mas tudo o que ele conta como sendo um plano futuro já é interpretado no presente.”

A metalinguagem permite que o processo de criação seja compartilhado com a plateia. Mais: devoto de uma escrita delirante, Felipe Rocha, que interpreta o único papel, promove a mistura entre ficção e realidade, com o ator confundindo-se com o autor. “Aproveito as várias camadas da narrativa para tratar especialmente do teatro e o processo da imaginação”, conta ele que, fiel à tradição do humor iconoclasta, permite que o texto una saltos de paraquedas e instalações de arte contemporânea, mafiosos romenos e super-heróis, canções românticas e estratégias performáticas de vanguarda. Quando trabalhava no texto, Rocha conta que não pensava em ser o intérprete. Mas, ao dividir a direção com Alex Cassal, percebeu que a dupla função seria benéfica. Afinal, o processo de ensaio permitia que o ator descobrisse os entraves do texto e propusesse a troca certa de verbos e substantivos, sem que o autor entrasse em depressão.

Ele Precisa Começar é justamente a primeira frase dita pelo ator, iniciando uma viagem cujas intenções foram aprovadas pela maioria da plateia carioca. “O tom é intimista, convidativo, e pede uma aceitação plena do público”, conta Rocha, já promissor como dramaturgo.

Por UBIRATAN BRASIL em 06/03/09

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